Wednesday, December 24, 2014

Uma lição de Nutrição para o Natal

Nessa época de Natal, tenho refletido muito e gostaria de compartilhar algo que vivenciei no mês passado com vocês.

Em uma atividade de educação nutricional com idosos, um idoso de 97 anos, cheio de saúde, alegria e ainda muita força, questionou nossas "dicas de alimentação" dizendo, sorrindo, com muita alegria:

"Há 97 anos, eu como pirão de peixe no almoço e na janta. Pescado aqui mesmo no meu bairro. De manhã, é comum batata doce ou mandioca. Como frutas só quando tenho vontade e, na verdade, não gosto muito de água". Complementou dizendo que adorava fazer caminhadas no bairro onde mora, que, de fato, é lindo!

Nós, aspirantes a nutricionistas, ficamos com a cara no chão diante dessa relato confrontando nosso discurso aprendido na faculdade "Beba muita água" "Prefira integrais" "Coma mais frutas" e etc e tal.
E - não querendo entrar em termos sobre os discursos trazidos pela Nutrição estarem certos ou não - eu entrei na seguinte reflexão: Qual é o segredo dele? 

Refleti: todos sabemos que alimentação e exercício físico são chaves. Mas, isso seria tudo?
Assim, não querendo entrar no mérito das características nutricionais da alimentação daquele senhor, eu pude aprender uma coisa.

O que eu pude aprender daquele senhor, que era tão sorridente, simpático e disposto, é que talvez a chave da saúde esteja na felicidade. 
Esteja no aproveitar a vida sem se preencher por culpas e preocupações. 
Esteja em se alimentar daquilo porque você gosta, porque seus pais te ensinaram. 
Esteja em se alimentar procurando sua nutrição física, espiritual e psicológica. 
Esteja em dar uma caminhada simplesmente pelo prazer de aproveitar o local que você mora e não porque você deve se exercitar.
Esteja em rir sem motivo, simplesmente porque você se sente feliz.


Naquele dia eu aprendi algo, uma lição da Nutrição que não se adquire simplesmente na sala de aula: talvez a saúde esteja não só em alimentar o corpo, mas em nutrir a alma, o espírito e vontade de viver.

Thursday, November 27, 2014

"Afinal, é errado alguém procurar ser mais saudável?"

Essa pergunta surgiu em uma conversa recente, na qual eu estava argumentando sobre a questão do como a classificação 'saudável' pode ser complexa, e sobre como muitos alimentos que não são considerados popularmente como saudáveis poderiam ser, sim, saudáveis. (Isso eu trago aqui e aqui).

Nesse contexto, alguém perguntou:

"Mas pensando na seguinte situação: eu almocei e tenho como sobremesa um brigadeiro e uma maçã. Não seria melhor comer a maçã?"

A resposta que temos popularmente hoje, em frente a tanta informação vinculada por inúmeros canais diferentes, é clara: Prefira a maçã.

Mas na minha cabeça, a resposta que me vem é: depende. Depende de muitos fatores. Depende de onde eu estou almoçando, depende da minha fome, depende do meu estado de espírito do dia, depende do meu humor, depende do que eu comi no resto do dia, depende de qual minha intenção com aquela sobremesa, depende da companhia que está comigo, depende da ocasião, depende do clima do dia, depende se eu me satisfiz com o almoço, depende da minha intuição... E depende! Depende de cada indivíduo, depende de cada situação, depende, depende, depende...

Deu pra ver que nesse momento, rostos de dúvidas surgiram, e alguém perguntou:

"Tá, mas, afinal, é errado alguém procurar ser mais saudável? Quero dizer, procurar alimentos nutricionalmente melhores?"

Não, não é errado querer ser saudável!
A questão toda é 'O que é procurar ser mais saudável?'

Pra mim:
Se considerarmos que uma alimentação saudável é composta pela função nutricional, social, cultural, psicológica - e tantas outras funções! - do alimento, as pessoas devem sim procurar por uma alimentação saudável.
Mas se formos focar apenas na função nutricional, a busca pela alimentação saudável pode ser infundada, sem contar que pode ser até um terrorismo: é onde entram as dietas e as restrições alimentares.


Por isso, o comer saudável deve ser buscado levando-se em conta não apenas o teor nutricional do alimento - isso não te respeita como indivíduo! - mas deve sim considerar todos os 'dependes' envolvidos na sua escolha alimentar!

Thursday, October 23, 2014

Afinal, como comer? Minhas percepções sobre a alimentação intuitiva e consciente

No último post, eu discuti sobre os vários malefícios associados à realização de dietas, mas eu fiquei devendo uma informação muito importante pra vocês: Como, então, perder peso? 
Antes de iniciar esse tópico, precisamos ter em mente que o peso/forma corporal ideal pra você pode não ser igual os das revistas. Até porque, pasmem!, apenas uma pequena parcela da população tem aquele biotipo da tevê. O resto da população possui biotipos diferentes, que, sinceramente, acho lindos! 
Assim, reflita: eu preciso perder peso?
Eu realmente preciso perder peso por causa de problemas de saúde, ou eu quero me encaixar nos padrões de beleza atuais? 
Quero cuidar de mim, da minha saúde ou do meu bem estar, ou quero fazer o possível e o impossível para me adequar ao peso que os outros acham que devo ter? 
Na verdade, todos nós possuímos um peso de equilíbrio, que é uma faixa de peso (de até 5 a 10kg) na qual nosso corpo se mantém com facilidade e funciona adequadamente. Assim, quando comemos de forma flexível, livre e sem proibições, respeitando nossos sentidos físicos e emocionais (vou chegar nisso!), nosso corpo se manterá nesse peso de equilíbrio. É ainda interessante ressaltar que quando fazemos uma dieta restritiva e emagrecemos além do nosso peso de equilíbrio, nosso corpo entra num estado de alerta, por pensar que está passando fome ou sendo privado de alimento, e aciona aquele nosso instinto de sobrevivência que fará com que nosso organismo revide: metabolismo diminuído, maior armazenamento de gordura e desejos por comida, além de próprios fatores psicológicos, emocionais e sociais que fazem com que não aguentemos permanecer na dieta. Isso levará ao deslocamento do peso de equilíbrio, o chamado efeito sanfona: se você perdeu 2kg, agora ganhará o dobro. 

Mas, então, o que fazer?
Como vocês têm percebido, aquela velha história da balancinha (perda de peso = ingerir menos e gastar mais) não é necessariamente verdade. Por isso, venho trazer outras opções pra vocês:

“Abrace e ame seu corpo,
ele é a coisa mais maravilhosa
que você irá possuir”
Primeiro, temos que nos aceitar. Mesmo muito abaixo ou acima do peso, temos que nos amar, nos aceitar e nos valorizar, pois, só a partir disso, poderemos mudar. Criar um ódio ou uma briga contra nós mesmos só vai nos trazer culpa, tristeza e a sensação de fracasso. O primeiro passo é nos aceitarmos, vermos a beleza que há em nós e nos amar. Independente de peso. Independente de forma corporal. Isso não significa se conformar com a situação, como por exemplo, estar sem saúde. Isso significa se aceitar, se valorizar e se amar, e a partir disso, se permitir mudar.

Segundo, devemos focar no nosso bem-estar e na nossa saúde! Precisamos ter em mente que o peso nunca deve ser um foco! Na verdade, o peso equilibrado deve ser uma consequência de nossas ações em prol da nossa saúde, do nosso bem estar e do nosso corpo.

Terceiro, proponho pra vocês uma ideia que vem crescendo pouco a pouco, retomando os sentidos naturais da alimentação e propondo uma vida sem restrições. Uma ideia que traz uma alimentação flexível, livre de proibições, consciente e que respeita seus sentidos físicos e psicológicos. Esta ideia é a alimentação intuitiva (intuitive eating)/alimentação consciente (mindful eating) (elas têm algumas diferenças técnicas, mas em geral nos levam pra mesma linha!). Linhas de pensamento que trazem:
As pazes com a comida. Dê adeus a sua guerra contra ela. Admita a função importante que a comida tem pra você; perceba que não há alimentos bons e ruins e permita que sua alimentação seja variada e flexível.

- Perceba todas as funções do alimento. A comida tem a função de nos nutrir, mas ela também tem funções sociais, culturais e emocionais em nossas vidas, e isso não deve ser evitado. Deixar de ir a um churrasco com os amigos porque você não quer comer é negar esses outros sentidos da alimentação.

O fim de qualquer restrição. É isso mesmo! A única regra é essa: tudo pode! Você deve estar pensando “Tá, desse jeito, eu vou comer até explodir!” Mas o que acontece é que nosso corpo reage de uma forma bem interessante. Quando abandonamos as restrições, pouco a pouco nosso corpo vai se acostumando a não se privar mais, e consequentemente vai deixando de ter desejos por comida, e nós vamos parando com obsessões e compulsões alimentares. Talvez nas primeiras semanas que você esteja praticando a alimentação intuitiva, você se sinta descontrolada e acabe comendo excessivamente. Mas depois de um certo período, o corpo se adapta e estas vontades e obsessões alimentares vão deixando de existir. Este é o segredo: quando se aceita tudo, seu corpo para de desejar tudo. E assim você leva uma alimentação flexível, livre de proibições e equilibrada (pois seu corpo vai pedir alimentos variados que nutram seu organismo, e também que nutram a alma!).

A confiança em seus sentidos físicos – a fome e a saciedade. Confiar no seu corpo quanto aos estímulos de fome e saciedade é a melhor estratégia que podemos utilizar. Preste atenção na sensação da fome, e coma. E enquanto estiver comendo, preste atenção nas sensações que a comida provoca no seu organismo e identifique a saciedade.

- A consciência e reflexão a respeito do momento de comer. Prestar atenção enquanto você come é um ponto essencial para identificar os sentidos físicos e psicológicos provocados pela comida no organismo! Aproveite cada mordida, cada mastigada! Coma com calma, e reflita sobre este momento. Curta este momento maravilhoso.

Entenda que o comer emocional pode estar presente. Muitas vezes comemos por causa de nossas emoções. Quando estamos tristes ou abalados, acabamos descontando na comida. Isso é muito comum. Não fique com raiva ou triste consigo mesma, mas reflita sobre esse momento, e perceba qual a causa disso. Não se reprima por estes momentos, apenas tente entender o que eles significam para você.

A seguir, quatro pontos que podem ajudar nesse processo:
Mente: Estou saboreando cada dentada e prestando atenção no meu alimento, ou estou pensando em outros problemas ou distraído com algo?
- Corpo: Como meu corpo reage antes e depois de comer? Quais sensações eu sinto?
- Sentimentos: O que é a comida pra mim? Como me sinto em relação à comida? Culpado? Com prazer?
- Pensamentos: Que pensamentos é que os alimentos me provocam? Memórias? Crenças? Mitos? Medos?

Por isso, pessoal, proponho para vocês que façam estes exercícios! Pratiquem, a cada dia, a auto-aceitação, a gratidão por você mesmo, e a alimentação intuitiva e consciente!


Que tal darem essa chance pro corpo e mente de vocês?
Que tal dizer não pra essa maré de dietas, restrições e pode-não-pode de hoje em dia?
Que tal dizerem sim para si mesmos?

Vem comigo!


Post escrito para o blog Maggnificas

Thursday, October 16, 2014

O mito da boca fechada

"Em uma aula de zumba, uma das mulheres comentou comigo como ela ainda não tinha conseguido perder peso desde que havia começado a frequentar as aulas, há três meses atrás. Então ela complementou: “É que só exercício não adianta né, o segredo é fechar a boca”.

Fechar a boca?
Bom, já diziam que “em boca fechada não entra mosca”, então acho que isso é bom motivo pra não manter a boca aberta por aí.

Ou quem sabe, “se não tem nada interessante pra falar, mantenha a boca fechada” também possa ser um motivo pra manter a boquinha fechada.


Brincadeiras à parte, será mesmo que “pra emagrecer, o segredo é fechar a boca?”Será mesmo que realizar jejuns ou restringir muito a alimentação (papel das famosas dietas) é chave para o emagrecimento? Será mesmo que embarcar em uma dieta com poucas calorias é o caminho certo?

Bom, nosso corpo, como vocês sabem, precisa de combustível para viver. Ele é como uma máquina, totalmente perfeita e organizada, que necessita de combustível, na forma de energia, para manter suas funções vitais. Nossas células sobrevivem desse combustível que damos a ela, e nossos órgãos mantêm suas atividades devido a esse combustível. Ainda, cada organismo é único e vai precisar de uma quantidade individualizada de energia e macronutrientes e micronutrientes.

Vamos dar uma analisada no que acontece quando você “fecha a boca” (restringe muito sua ingestão alimentar – as dietas, ou realiza a prática de jejuns):

1)      Quando fornecemos muito menos combustível do que o corpo precisa, ele entra num estado de alerta. A restrição levará a uma perda de peso, mas isso à custo de estresse metabólico - e psicológico. Além disso é provável que você esteja perdendo principalmente água e músculos, e provavelmente atingirá o “efeito platô”, no qual a perda de peso se torna muito difícil

Seu corpo vai ficar em alerta, preocupado, pois está recebendo muito menos energia e nutrientes do que estava acostumado. Começarão a ocorrer alterações metabólicas para manter suas células e órgãos funcionando, mesmo à custa de pouco combustível. Isso fará com que você perca peso, é claro, pois seu corpo está consumindo suas reservas e se auto-consumindo para lhe manter vivo.

Porém nosso corpo é uma máquina perfeitamente adaptável e ele vai sim se adaptar a essa situação. Ou seja, se antes você precisava de x calorias para se manter, seu corpo vai conseguir funcionar perfeitamente usando muito menos calorias. Isto é, ele vai se otimizar! Isso é muito bom para ele, pois como uma máquina de sobrevivência, ele garante que você continue vivo e funcionante. Porém, para você que está querendo emagrecer, isto é um problemão, pois você entrará naquele chamado “efeito platô”. Ou seja você está comendo muito pouco, e não está perdendo mais peso.



(Pois é! E sem as calorias seu corpo não sobrevive!)


2) O proibido passa a ser muito desejado, e seu psicológico passa a ficar abalado: culpa e obsessão invadirão seus pensamentos.

Além disso, ao entrar numa dessas dietas, você acabará restringindo muitos tipos de alimentos. Ou seja, alguns alimentos começam a ser colocados naquela listinha de proibidos, e são cortados bruscamente da alimentação. Seja aquele bombom de depois do almoço, ou aquele bolinho do café da tarde, a ingestão destes alimentos será acompanhada do sentimento de culpa. Você começa a se sentir culpada ao ingerir certos alimentos, pois estes poderiam estragar seu processo. Essa restrição gera um efeito interessante no nosso psicológico: quando não podemos ter algo, nós queremos. E queremos muito. Assim, muitas dietas são acompanhadas por um pensamento obsessivo em comida. Quanto mais você controla sua alimentação, mais você pensa em comida.

3)      “Boca fechada” pode levar a compulsões alimentares.

Muitas vezes a dieta pode levar ao desenvolvimento de compulsões alimentares, as quais se caracterizam por uma ingestão de muita comida em um intervalo muito pequeno de tempo. Por exemplo, você passa uns 7 dias sem comer o seu tão querido bombom, e no oitavo você não se aguenta, e resolve comer um. Mas aquele um bombom está tão mais delicioso agora, e você não consegue evitar e acaba comendo um saco inteiro. E muitas vezes, o comer um bombom não planejado pela dieta causa o pensamento de que você “estragou a dieta no dia” e assim você se libera para atacar todas aquelas outras coisas que você vem proibindo. Mas tudo bem né, porque no dia seguinte você recomeçará a dieta, talvez até comendo bem menos no dia seguinte pra compensar, e tudo voltará aos prumos. O problema é que isso é um ciclo infinito. Você restringe, mas você não aguenta, e acaba comendo aquele alimento excessivamente.

4)      A vida social pode ficar abalada.

A vida social também pode ser um pouco abalada, pois como continuar frequentando aquela noite da pizza com as amigas? Ou como participar daquele churrasco de domingo? Assim, é comum que você passe a evitar estes eventos, ou mesmo comece a levar a sua própria marmita “saudável”, o que também pode não ser muito bem aceito pelos outros participantes.

5)      Dietas e jejum têm um tempo limitado: o “efeito sanfona”.

Provavelmente será difícil manter a tal dieta e essa restrição toda, e você vai acabar desistinto e voltando sua alimentação de antes. O problema, gente, é que agora seu corpo está otimizado, ou seja, seu corpo é capaz de funcionar super bem com menos combustível do que antes. Ou seja você come o mesmo tanto, mas agora seu corpo precisa de menos! Isso é o que leva ao famoso “efeito sanfona”. Você retoma sua alimentação habitual, e não só recupera o peso, como acaba ganhando mais peso ainda. O outro problema é que a composição corporal acaba mudando também, pois você havia perdido principalmente água e músculo, mas agora o excesso da sua ingestão será acumulado como gordura.


Voltando, será que o “boca fechada” realmente vai trazer o emagrecimento? Ou só vai confundir o seu metabolismo e o seu psicológico?
É claro, pessoal, que isso é uma explicação genérica do que acontece quando você segue uma dieta restritiva ou “fecha a boca”. Mas temos que ter em mente que o organismo é uma máquina fantástica e complexa, composta por inúmeras reações e compostos químicos e metabólicos, que se desestabiliza quando submetido a um extresse, como o da “boca fechada”.

Sinceramente, eu não sei como essa crença de que “pra emagrecer tem que fechar a boca” caiu na boca da galera (olha o trocadilho!). Eu fico surpresa, porque esse dito não só não é verdadeiro, como também ofende nosso corpo em sentidos físicos e psicólogicos. Pra manter nosso corpo em função e peso equilibrado, temos que dar a ele combustível suficiente!

Por isso, gente, nada de “boca fechada”.
Vamos dar ao nosso corpo o combustível que ele precisa pra sobreviver, para funcionar perfeitamente, e para nos deixar cheios de vida!

A essa altura, talvez você esteja um pouco confuso: Tá, se “fechar a boca”, fazer dietas ou realizar jejuns não funciona, o que funciona, afinal?

No próximo post, abordarei estratégias a respeito de como se alimentar adequadamente, seja buscando o emagrecimento ou a manutenção do peso, de um modo que respeite nosso metabolismo e nosso psicológico! Isso não involve milagre, fome, ou extrema força de vontade ou disciplina. Isso irá involver amor-próprio e confiança em si mesmo. Mas, para não deixar vocês na vontade, já vou deixando um exercício para vocês para introduzir o próximo post:

- Pratique amor-próprio (lembre-se que independente de você parecer com as mulheres divulgadas pela mídia, você é linda e ninguém pode te dizer o contrário!). Observe as coisas boas que você tem!

- Preste atenção no seu corpo, nos sentidos da fome e da saciedade, enquanto você come; e observe o prazer que os alimentos trazem.


Beijos!

Saturday, August 2, 2014

O que é comer normalmente, afinal?

Em meio a uma enxurrada de informações a respeito de dietas, seleção alimentar, restrição de alimentos, alimentação saudável, alimentação fitness, aumento de proteínas, diminuição de carboidratos, estratégias sem lactose ou sem glúten, super alimentos, alimentos ruins e afins, essa pergunta para ser bem difícil de responder. Parece que o conceito do comer normalmente está ficando esquecido.

Então, pesquisando sobre o assunto, me deparei com esse brilhante conceito de Ellyn Satter, e achei legal trazer aqui para uma reflexão:

Comer normalmente é ir para a mesa com fome e comer até se sentir satisfeito. 
É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até ficar verdadeiramente satisfeito - não apenas parar de comer porque você acha que deveria. 
Comer normalmente é ser capaz de refletir sobre sua escolha alimentar para que você possa obter alimentos nutritivos, mas não ser tão restritivo e seletivo ao ponto de esquecer os alimentos que você gosta. 
Comer normalmente é às vezes lhe dar permissão para comer porque você está feliz, triste ou entediado, ou apenas porque isso é gostoso.
Comer normalmente é ter três refeições ao dia, ou quatro, ou cinco, ou você pode ir escolhendo ao longo do dia.
É deixar alguns biscoitos no prato porque você sabe que você pode comê-los de novo amanhã, ou comer todos agora porque eles têm um gosto maravilhoso.
Comer normalmente é comer demais às vezes, e se sentir cheio e até desconfortável. Mas às vezes isso pode ser comer a menos. Comer normalmente é confiar em seu corpo para corrigir seus "desvios" na alimentação.
Comer normalmente exige um pouco do seu tempo e da sua atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida.
Em resumo, comer normalmente é ser flexível. Isso varia conforme sua fome, sua agenda, sua proximidade ao alimento e seus sentimentos.

Segundo a autora - e eu concordo! - o comer normalmente é, sobretudo, flexível, amplo e baseia-se na confiança nos instintos do organismo. Ele é consciente, e considera não só a função nutricional do alimento, mas também o prazer intrínseco a ele. Ele respeita o organismo e a mente.

O comer normalmente não é obsessivo, mas natural de todo ser vivo. Só temos que resgatá-lo.




Fonte: Tradução não literal do conceito de Ellyn Satter (http://www.fatnutritionist.com/index.php/what-is-normal-eating/)

Thursday, July 24, 2014

Afinal, quem sou eu?

Texto por Renan Barbizan e Nathália Petry

Partindo da velha máxima de que até mesmo quando nascemos não temos nenhum tipo de opção, já dá para observar que nossa vida recebe interferências externas o tempo todo, do início ao fim. O grande trunfo é saber como lidar com elas, não se deixando confundir com a realidade do seu eu, ou seja, não deixando que sua verdadeira personalidade se afogue no meio de tanta condição externa.

Durante a vida toda sofremos modificações que interferem no nosso eu, partindo da infância, onde somos estimulados a brincar e a nos envolver em diferentes atividades, assim como aprendermos a nos alimentar e nos desenvolver, mas sofremos também várias repreensões, como quando exageramos em algo naturalmente pela inocência que ainda nos cerca e somos punidos, ou quando deixamos de comer e levamos bronca, sendo “incentivados” a comer mais um pouquinho, daí quando finalmente encontramos algo que gostamos e exageramos um pouco, também somos punidos. Assim, em meio a estas interferências externas, como será que cresce uma criança? Incentivada ou com medo? Além disso, o apelo à beleza e à perfeição já são inseridos desde a infância, e as crianças crescem aprendendo a desejar serem diferentes: mais bonitas, mais magras, mais perfeitas.

Depois vem a adolescência e a história se repete, onde muitas vezes as pessoas ao nosso redor não sabem lidar com nosso modo de ser: se somos mais reservados e caseiros, somos ironizados, tratados como anti-sociais e por aí vai, mas quando fazemos muitos amigos e queremos sair, aparecem milhões de regras quanto a dias, horários, explicações, “relatórios de saídas”, e se algo não for cumprido, punição novamente. Sentimos julgamentos até em relação a nossa alimentação, já que quando não temos muita fome estamos ficando magros demais e não vamos crescer, e quando comemos precisamos nos cuidar senão vamos ficar obesos.

É claro que muitas destas situações ocorrem devido a preocupações dos próprios pais e familiares, porém seria esta a forma exata de contribuir para a formação de um indivíduo? É claro que limites e educação devem ser ensinadas, mas como fazer isso sem criar um negativismo? Como criar auto-estima, confiança, motivação? Sem contar o gigante apelo midiático constantemente dizendo que você não é bom o bastante, que você não é bonito o bastante, que você não é perfeito o bastante, que você precisa comer isso, que você precisa pensar isso, que você precisa parecer com isso.

As interferências externas que temos em nossas vidas, sejam elas boas ou ruins, são enormes e constantes. Poderíamos citar muitas situações nas quais opiniões e comentários alheios interferem grandemente no rumo das nossas vidas, mas o objetivo aqui não é esse.

Pelo contrário, o objetivo desta reflexão é estimular nosso pensamento para a grande pergunta: “Quem, na verdade, sou eu?”

Para buscar uma melhor qualidade de vida física e psicológica é necessário o entendimento de que, apesar de vivermos rodeados de diferentes tipos de interações sociais - familiares, de amizade, de relacionamentos ou mesmo de desconhecidos - a única pessoa com conhecimento completo de si e responsável por tudo aquilo que você pensa e faz no seu cotidiano é você mesmo! Afinal, partindo da ideia de que quem levanta todo dia e vai cumprir as suas obrigações é você, porque a opinião do outro está sendo tão valorizada assim?

Quem é você? Quais são seus gostos, seus sonhos e sua paixão na vida?

Nosso conselho é que você leve a vida de um modo em que viver deixe de ser uma responsabilidade e passe a ser um gosto, onde o trabalho seja vivido com prazer, onde os estudos sejam estímulos diários, onde estar com pessoas que nos fazem bem seja apreciado, onde questões como vestimenta, comida, pensamentos e atos sejam da sua vontade e conhecimento.
Assim você estará mais seguro para aprender a cada dia a ser alguém melhor, motivado pela vontade de viver ao máximo e não pelo medo de não satisfazer as vontades dos outros acima das suas. Assim, você estará preparado para se auto-conhecer, se auto-entender, se auto-aceitar e se auto-valorizar.
Você estará preparado para responder, sem hesitar, a pergunta ‘Quem sou eu?’.

Monday, July 21, 2014

'Mãe, eu quero ser uma barbie' - dietas, insatisfação corporal e transtornos alimentares na infância

Semana passada, uma menina linda, saudável e cheia de vida, de 7 anos, veio me dizer que ela precisava fazer mais exercícios e suar pra perder a barriga, que, segundo ela, era grande. Confesso que fiquei assustada.

Desde quando crianças têm essa preocupação com a aparência? Desde quando as preocupações das crianças foram destorcidas do brincar para o se importar com a sua imagem? Desde quando as crianças deixaram de querer ter uma barbie para querer ser uma?

“Não a deixe pensar dessa forma”


Refletindo e pesquisando no tema, fiquei assustada com os dados encontrados.
A infância tem sido invadida não só por uma preocupação excessiva com corpo e aparência, mas também por uma consequência grave desta: dietas, comportamentos alterados em busca da perda de peso e até mesmo transtornos alimentares cada vez mais presentes na infância.


O National Eating Disorders Association traz os seguintes dados relacionando infância e transtornos alimentares:

42% de meninas entre a 1ª e 3ª série revelaram que gostariam de ser mais magras (Collins, 1991).
81% das crianças de 10 anos tinham medo de se tornarem gordas (Mellin et al., 1991).
46% das crianças entre 9-11 anos estavam “às vezes” ou “frequentemente” em dieta, e 82% das famílias também estavam “às vezes” ou “frequentemente” em dieta (Gustafson-Larson & Terry, 1992).


Como assim, gente? 81% das crianças de 10 anos tinham medo de se tornarem gordas?! Isso é muito cruel, sim ou sim?
Fiquei assustada! São dados bem alarmantes, certo? E muitos deles são da década de 90, sendo possível, assim, que hoje em dia esses números sejam maiores, já que nós possamos uma mídia muito mais infiltrada nas nossas vidas, por meio do poder que a internet adquiriu atualmente.


Segundo o estudo de Gonçalves et al (2013) sobre transtornos alimentares na infância e na adolescência:

“Os transtornos alimentares mostraram-se comuns na infância e na adolescência.
Dentre os fatores de risco para os transtornos alimentares, destacaram-se a mídia e os ambientes sociais e familiares.
A influência da mídia e do ambiente social foi associada, principalmente, ao culto à magreza.
Já no âmbito familiar, o momento das refeições mostrou-se fundamental na determinação do comportamento alimentar e no desenvolvimento dos seus transtornos.”


Para concluir e refletir, eu deixo a seguinte mensagem:


“Toda sociedade tem um jeito de torturar suas mulheres. 
Nosso jeito é impondo a busca pela perfeição. 
Toda criança pode ter um intenso medo de "ficar gordinha". 
Isto não deveria ser desse jeito. 
Esta menina tem o direito de crescer sem ter seu corpo criticado.”


Imagens retiradas do Google Images.

Thursday, July 10, 2014

"Eu vou perder tudo se eu não aprender a me amar"


Nicole Scherzinger, talentosa popstar feminina, membra do ex grupo Pussycat Dolls, revelou, em 2012, sua batalha contra um transtorno alimentar: a bulimia nervosa.

Segundo ela, durante o auge do sucesso de Pussycat Dolls, ela viveu a época mais escura da sua vida.
"Bulimia é uma doença horrível e paralisante, e isto foi uma época sombria na minha vida." diz ela.

Segundo ela, a bulimia nervosa é fácil de esconder, quando em comparação com a anorexia nervosa. E por isso os familiares e amigos nem sempre conseguem perceber esta fase difícil que você vem enfrentando.
"Eu escondia isso muito bem. Eu ficava envergonhada. Eu sabia que isso não era normal ou saudável, porque eu estava me machucando com aqueles ciclos da alimentação transtornada [restrição, compulsão, purgação]. Isso era minha droga, meu vício. Um ciclo sem fim"

Ela conta que o transtorno começou a ter repercussões negativas na sua carreira, e como ela percebeu que ele estava roubando sua vida:
"Eu comecei a perder minha voz, e eu não podia mais cantar nos shows. E eu lembro que meu empresário me encontrou desmaiada no chão [...]. Então eu pensei: Eu vou perder tudo se eu não aprender a me amar". 
Nicole precisou de muita força para não afundar sua carreira. Ela sabia que precisava enfrentar aquilo, que precisava rumar para sua recuperação.
"Um dia, quando você pensa que já atingiu o fim, você apenas diz: 'Não vou mais fazer isso'. É triste como eu desperdicei minha vida. Eu tinha uma vida fantástica, e o Pussycat Dolls estavam no topo do mundo, mas eu me sentia miserável por dentro. Eu nunca mais vou deixar isso acontecer de novo. Você tem apenas uma vida."

Nicole ainda coloca que apesar da ameaça que essa doença é à sua vida, você pode sair dessa. A recuperação é sim possível!
"Isso rouba sua vida. Mas a recuperação é possível, e você

pode expulsar essa doença da sua vida de uma vez por todas. Eu fiz isso, e por isso compartilhar minha história é tão importante para mim. Eu me senti tão sozinha... mas eu me fiz ficar sozinha. Você esconde isso do mundo, você se isola. Mas você pode vencer isso. Não desista, porque você é muito especial 
[...]."

Segundo Nicole, compartilhar sua história tem um único motivo: encorajar outras mulheres. 
Sua bravura é importante e necessária. Celebridades podem inspirar e motivar com suas histórias, e mostrar aos seus fãs a importância do amor próprio e da auto-aceitação. Nicole ainda mostra como a recuperação de um transtorno alimentar é possível, e é merecida por todos aqueles que sofrem. A vida não precisa acabar por causa de um transtorno alimentar.
Nicole está certa. Você existe para viver e fazer coisas fantásticas. Você vale muito!

Texto e tradução baseados nesta reportagem.

Sunday, June 29, 2014

Um recado à ditadura da magreza!

Por Michele Paulina Schaidt

Por alguns anos acreditei de fato que você era tudo de bom!
Que era maravilhoso ser assim; e que passar fome por vários dias, deixar de comer aquelas coisas gostosas e viver por ai caindo da fraqueza valia a pena!
Porquê a sociedade dizia que tinha que ser assim pra ser PERFEITA!!!
Fiquei vidrada achando que eu estava sendo ''FELIZ''.
Só achava mesmo!

Eu estava buscando PERFEIÇÃO mas só encontrei INFELICIDADE e TRISTEZAS.

É, percebi que você nem era tão legal assim e que no fundo, você era uma vilã!
Por um longo período fui muito triste!
Mas ai um dia a ficha caiu e eu pensei:

PERFEITA? Quem disse que preciso de PERFEIÇÃO pra ser feliz??
E outra, quem disse que SER MAGRA é SER PERFEITA?

Percebi o quanto estava errada e como fui boba.
Acreditei em uma mentira que muitas meninas da minha idade já caíram!

Mas pude entender que, a felicidade está contida em Deus, momentos, sorrisos, amigos, família e JAMAIS em números!

E dai que hoje eu estou usando 38?
A felicidade por acaso está no 34?
Eu posso dizer que por 2 anos usei este número e fui muito INFELIZ!

Mas hoje, cara ditadura da magreza, eu sou feliz de verdade!!!
E bem longe de você!!!

Ah e tem mais, Tenho que te dizer: Você não é perfeita coisa nenhuma!!!
Você é traiçoeira!!
Perfeito mesmo, só Deus! E a minha felicidade que está contida Nele e nos meus familiares e amigos!!!!

Hoje eu sou livre de você
Até nunca mais!




A Michele superou um transtorno alimentar e percebeu que a magreza não está relacionada à felicidade. Parabéns, Mi! Sua superação é incrível, e você merece muito! E obrigada por compartilhar sua história e trazer motivação a muita gente!

O processo da recuperação pode ser difícil, mas é muito recompensador!
A recuperação é possível, gente!

Wednesday, June 25, 2014

Homenagem aos profissionais de saúde

Por: Psicólogo Renan Barbizan de Campos

Quando se ingressa numa profissão ligada à saúde, as dificuldades já são plantadas desde o início, para que lá na frente ninguém diga que não foi avisado. São críticas, imposições, questionamentos, descrenças e tudo aquilo que se possa imaginar. Afinal porque cuidar do ser humano? Porque não escolher algo “mais fácil”? Algo “mais recompensador”?

Todos os dias em que acordo e me lembro de que vou poder proporcionar, com o fruto dos meus estudos, a tentativa de reaver a qualidade de vida a uma pessoa, meus olhos se abrem, minha boca sorri e meu dia ganha sentido.

Mesmo que muitas vezes os projetos não funcionem, mesmo que pacientes venham e vão como num piscar de olhos, mesmo que tenham dias onde a vontade perca para as adversidades da profissão, basta uma noite de sono e tudo volta como sempre foi. Ser um profissional da saúde é recompensador por natureza!

A alegria de ver outros profissionais dispostos a trabalhar com ética e postura, a ansiedade de novos casos, de novos desafios e o empenho em ideias a serem desenvolvidas com outras áreas em conjunto - tudo aquilo que me comprova a cada passo que a escolha pela saúde e pelo cuidar do outro é perfeita - me faz querer mostrar isso a mais e mais pessoas ao meu redor.

Fica aqui minha pequena homenagem àqueles que assim como eu saem de suas casas, de suas vidas, dispostos a fazer o bem sem ver a quem, a cuidar de todos os tipos de casos sem discriminar gênero, etnia, classe social, ou qualquer que seja a diferenciação entre um ou outro paciente que chega até nós. 
O lema é e sempre será fazer o que ama, e amar o que se faz!
Um passo de cada vez...






Obs.: O psicólogo Renan é um novo parceiro da Sobre Transtornos Alimentares.
Para contato e dúvidas: psicologia.renan@gmail.com
Blog: https://debatendoavida.wordpress.com/

Maiores informações no Mapa de Locais de Tratamento para T.A. no Brasil.



Wednesday, June 18, 2014

Quão grande é o espaço adquirido pelos transtornos alimentares atualmente?

Vocês já repararam como a frequência de transtornos alimentares (ou mesmo alimentação transtornada e insatisfação corporal) têm crescido na população? Apesar de não termos números exatos no Brasil, é possível ver esse crescimento. E, se você parar para pensar, é bem provável que você tenha um amigo, ou um conhecido, ou um amigo de um amigo, ou já ouviu falar de alguém, que já sofreu ou sofre de T.A.s.

Mas estas duas situações abaixo me fizeram ficar um tanto impressionada sobre o espaço que os transtornos alimentares têm adquirido atualmente. Parece que os T.A. não estão só entre as pessoas "saudáveis", mas também entre pessoas com situação de saúde mais complicada.

1) Há alguns meses vários artigos relatando a significante presença de transtornos alimentares em indivíduos com fibrose cística
Pra quem não sabe, a fibrose cística é uma condição genética que faz com que as secreções produzidas pelo indivíduo sejam mais espessas e mucosas do que nos indivíduos que não possuem essa condição. Isso traz muitas manifestações clínicas, incluindo problemas respiratórios e digestórios, que diminuem a expectativa de vida do indivíduo. Felizmente, esta expectativa pode ser aumentada quando uma boa nutrição e o tratamento adequado e cuidadoso - o qual exige bastante dedicação - são aliados. Assim, é sabido é que uma correta nutrição e não deixar faltar calorias e nutrientes no organismo são primordiais para uma boa qualidade de vida deste indivíduo. 
Então, vocês conseguem imaginar o que acontece quando um transtorno alimentar é desenvolvido em um destes indivíduos, certo? Segundo Gilchrist e Lenney, de 2008, a pressão da mídia e as extremamente magras modelos e celebridades acabam por ter impacto também em indivíduos com fibrose cística. 
Porém, a não realização de refeições, a alimentação em quantidade insuficiente, ou de qualidade não adequada, purgações, ou seja, os comportamentos de um transtorno alimentar, podem trazer consequências muito ruins para a saúde deste indivíduo, como a piora da sua condição, e até mesmo trazer consequências fatais.

2) Hoje, me deparei com uma matéria relatando que os transtornos alimentares estão também se infiltrando significante dentre jovens e adultos com diabetes tipo 1

A diabetes tipo 1 é caracterizada por uma secreção insuficiente de insulina, o que prejudica a absorção e metabolismo de glicose (açúcar). Assim, esses pacientes precisam fazer uso de insulina externa para que seu organismo metabolize sua alimentação corretamente. Quando não cuidada e controlada, a diabetes tipo 1 pode trazer riscos e problemas à saúde do indivíduo, desde pequenas alterações a grandes problemas de saúde (Mais informações aqui).
E quando o indivíduo entra num quadro de transtorno alimentar, ele acaba não fazendo o correto controle da sua condição, e os riscos à saúde ficam muito acentuados, trazendo riscos para sua própria vida.


Então, duas coisas me chamaram a atenção nestas situações:


  1. Como a busca e obsessão pela magreza e pelo corpo perfeito - que já têm trazido efeitos negativos para a saúde de muitas pessoas que antes eram saudáveis - têm também se infiltrado dentre pessoas que já possuem uma condição de saúde mais delicada. Ou seja, essa obsessão tem entrado na vida de pessoas que já possuem uma condição que exige maior controle e cuidado e que não podem se submeter a alimentação e comportamentos alimentares equivocados, trazendo consequências muito devastadoras na vida destes indivíduos.
  2. Como os transtornos alimentares têm adquirido espaço dentre a população, não só dentre pessoas "saudáveis", mas também em pessoas que já possuem uma condição de saúde mais compicada.


A partir disso, minha reflexão traz: 
  • Por que é tão importante ser atingir a magreza? 
  • Por que ser tão magro está tão vinculado a uma vida feliz e saudável? 
  • Por que deixamos que nossa aparência tenha tanta importância?
E mais:
  • Por que as pessoas arriscam suas vidas para atingir essa magreza? (Como é o caso das situações acima, e também de todos os indivíduos que sofrem com T.A. Uma vez ouvi de uma paciente que ela preferia morrer a engordar.)


Quão grande é esse poder que a insatisfação corporal e os transtornos alimentares têm adquirido dentre as pessoas? 


Thursday, May 29, 2014

Você não come igual todo os dias! Então por que seguir o mesmo plano alimentar todos os dias?

Você não come igual todos os dias!

Estudando epidemiologia nutricional, basicamente sobre os erros comuns em artigos científicos relacionados a estudos de consumo alimentar, uma coisa me chamou a atenção: a dificuldade de captar o hábito alimentar do indivíduo, levando a erros nestes estudos!
O erro ocorre quando os estudos coletam apenas um dia alimentar de cada indivíduo (ou seja, os indivíduos participantes na pesquisa anotam tudo o que eles consumiram nas 24h do dia anterior - chamado recordatório 24 horas). Porém, esse método leva a erros na pesquisa, pois nós não comemos as mesmas coisas e as mesmas quantidades todos os dias! Sim, isso é verdade!

Dá uma olhadinha aqui nesses gráficos, retirados da minha aula de epidemiologia nutricional sobre a análise do consumo alimentar durante vários dias de indivíduos se alimentando sem nenhum tipo de restrição ou controle. Os dois gráficos abaixo se referem ao consumo alimentar de um mesmo indivíduo. 
O primeiro gráfico é relacionado ao consumo de gordura. Dá pra observar ali que em 9 dias de análise, o indivíduo ingeriu cerca de 70g de gordura; em 4 dias de análise, foram consumidas 30g; em 5 dias de análise, foram consumidos 90g de gorduda. A respeito da vitamina A, a variação é maior ainda! Ou seja, a cada dia o indivíduo consumiu um teor de vitamina A diferente!


Vocês devem pensar assim: isso é loucura! Pois nosso organismo precisa de nutrientes diários para se manter funcionante!
Mas sabem o que é mais interessante? Quando observadas as médias semanais do consumo destes nutrientes, as quantidades ingeridas eram aproximadamente aquelas que o organismo deste indivíduo precisava!
E querem mais uma coisa interessante? A quantidade de calorias ingeridas por estes indivíduos do estudo, comendo livremente sem nenhum controle de calorias, foi semelhante na maioria dos dias, mesmo variando a quantidade de nutrientes.

Na verdade, quando comemos livremente, conforme nosso estímulo de fome e saciedade, respeitando nossos sentidos, nós ingerimos conteúdo calórico similar diariamente. Há uma leve variação diária de macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos). Ou seja, em um dia comemos um pouco mais de proteína, no outro um pouco mais de gordura... E há também uma grande variação dos micronutrientes (vitaminas e minerais). Mas com o decorrer de dias ou semanas, nosso corpo adquiri os teores de nutriente que ele precisa!

Isso mesmo, gente! O que acontece é que o nosso organismo não é uma maquinaria perfeita, com estímulos mecânicos, que consume a mesma quantidade de nutrientes todos os dias! Nós temos variações emocionais, hormonais, ambientais... que nos fazem ingerir quantidades diferentes a cada dia! Mas que no fim de um certo período (semanas, por exemplo), como nosso corpo humano é maravilhoso, acabamos fornecendo ao nosso organismo tudo aquilo que ele precisa.


Isso faz todo sentido, pois cada alimento é fonte de determinados nutrientes. E como comer todos os alimentos fontes no mesmo dia?!

Como vocês já tão carecas de saber, nós temos alimentos fontes de nutrientes. Banana é fonte de potássio, fígado de vitamina A e D, laranja de vitamina C, carne vermelha é fonte protéica e de ferro, arroz e feijão fornecem quantidades adequadas de proteína, abacate fornece gorduras boas, peixe é fonte de ômega 3... e por aí vai! Cada alimento é constituído de nutrientes diferentes e conferem benefícios diferentes. Mas já pensou ter que comer todos no mesmo dia para alcançar os requerimentos de cada nutriente? Na verdade, é isso que as pessoas têm tentado fazer...



E aí vem a confusão! Muitas vezes quando vemos nas resportagens da tevê, revistas e tals, sobre o novo benefício de algum alimento, achamos que temos que ingerir esse alimento todos os dias...
Mas não é isso, gente! Não precisamos comer todos os alimentos fonte todos os dias! Até porque haja estômago para comer tantos alimentos no mesmo dia, e haja paciência pra tanta monotonia diariamente!
Nosso corpo permite um consumo alimentar que varia diariamente! Podemos ir acrescentando alimentos fontes dia a dia, assim com o decorrer dos dias vamos enchendo nosso organismo dos nutrientes necessários :D


Mesmo com toda essa variação diária, nosso corpo é capaz de receber os nutrientes necessários! E além do mais, ele nos mostra o que ele precisa!

Quando comemos conforme nossos estímulos de saciedade e fome, tendo uma alimentação variada, comendo de tudo, respeitando nossos desejos e vontades e nossos estímulos psicólogicos, e tendo prazer com a alimentação, nós acabamos comendo os nutrientes que nosso organismo precisa! Isso não é suuuuper interessante? Nosso corpo é super inteligente!

Um exemplo, então! Morando aqui na Irlanda, fiquei uns dois meses sem comer carne vermelha, porque estava comendo muito peixe e frango. Comecei, então, a sentir uns desejos loucos por carne vermelha e feijão, e até cheiro de churrasco eu já estava sentindo. Provável que era meu corpo me avisando que eu tava precisando de umas dosezinhas de ferro! Outro exemplo é de um documentário sobre naufrágio que vi esses tempos, no qual um homem ficou perdido no mar sem comida. Nos primeiros 15 dias ele comia a carne de peixe, crua, é claro. Mas depois desse período, ele começou a ter desejos por comer a pele e os olhos do peixe. Sabe por que? Porque ali estavam vitaminas e minerais que o corpo estava precisando!

Nosso corpo é meeeega esperto! E nos diz o que ele precisa! Isso não quer dizer que ingerimos todos os nutrientes necessários todos os dias! Mas com o decorrer do tempo nosso corpo consegue se abastecer daquilo que ele precisa! 

Mas não, gente, não estou aqui pra dizer: Bora abandonar os nutricionistas, pois esses profissionais não servem pra nada! Não é isso.


Nutricionistas são profissionais importantes, e têm o dever de respeitar essa variação diária no consumo alimentar, e de ter um papel de educador!

Nutricionistas são muito importantes para lhe orientar, lhe ensinar sobre a alimentação e lhe educar a seguir seu próprio corpo! Você deve procurá-lo para lhe ajudar a reestabelecer seu equilíbrio, fazer as pazes com os alimentos, e ter uma vida mais leve em relação à alimentação!
O que quero dizer é: não aceitem dieta pronta de gaveta ou planos alimentares monótonos. Exijam educação, diálogo e aprendizagem! Exijam aprender a entender seu corpo e a se alimentar sem culpa! Exijam que o nutricionista busque à saúde e não foque apenas em aspectos estéticos. Exijam que seu nutricionista lhe observe como um ser humano particular, único e diferente de todos os outros, e que merece orientações individuais, e não apenas uma dieta de gaveta que é passada para todos os outros.


Sim, você é único, seu organismo é único e seu consumo alimentar é único. 
Dietas de gaveta não são para você.
Dietas de celebridades não são para você.
Dietas de revistas não são para você.
Sabe o que é para você? Um cuidado único.


Bom, gente, o que eu quero com esse falatório todo então é: 
1) Nós não comemos igual todos os dias
2) Assim, seguir planos alimentares iguais todos os dias pode ser meio furado, porque ninguém aguenta tanta monotonia, e ninguém tem estômago pra comer todos os alimentos fontes de nutrientes no mesmo dia!
3) Mas quando respeitamos nosso corpo e temos uma alimentação variada, também respeitando vontades e estímulos psicológicos, com o decorrer dos dias nós preenchemos nosso organismo com aquilo que ele precisa. Nosso corpo é esperto, ele nos diz o que ele precisa.
4) Nutricionistas podem ser importante aliados, tendo papel de educador e guia, e respeitando a unidade e diferenças de cada paciente. Por isso, nutricionistas, não prescrevam dietas de gaveta ou os mesmos planos alimentares de sempre. Seu foco é de educador e guia. Cada paciente é diferente, e apresenta um consumo alimentar diferente. Seu profissionalismo exige que você respeite isso.
5) Dietas de gaveta, dietas de revista, dietas de celebridades e dietas malucas, como dietas da sopa e afins não respeitam o indivíduo, e nem a variação diária no consumo alimentar. Você, leitor, é único, e não deve copiar dietas de outros, ou receber dietas padronizadas. Elas não te respeitam, e insultam seu organismo.






Você é único. Seu dia alimentar é único.
Seus estímulos e interações são diferentes a cada dia. 
Por que sua alimentação seria sempre igual?